Au revoir! (E mais um “meio certo”)

Na mais aguardada premiação do Cannes Lions 2012, não houve grandes surpresas. O que é ótimo, pois isso nos ajudou a acertar mais uma previsão. O simpático e inspirador filme “The Bear” conquistou o Grand Prix na categoria Film Craft, que premia a melhor produção e apuro técnico na filmagem. Nada mais justo, pois não poderia haver escolha melhor do que um filme que homenageia exatamente a figura do diretor de cinema.

Conforme previmos no post anterior, esperávamos que o filme do Canal+ superasse os fortes concorrentes da Procter & Gamble e do jornal The Guardian, mas esquecemos de citar o comercial que acabou sendo o grande vencedor na categoria Film. A peça premiada foi “Back to the Start”, criada pela agência Creative Artists de Los Angeles para a rede de restaurantes Chipotle. Com uma animação bem feita, mas sem grandes novidades, o filme tem como grandes méritos a ideia e a mensagem de alerta.

O comercial faz uma narrativa de um produtor agrícola, que começa o filme com poucas cabeças de gado, cresce e acaba criando um abatedouro e uma monocultura de algum tipo de grão não especificado. Depois de se dar conta de que aquele modo de produção era cruel com os animais, o agricultor decide recomeçar do zero (daí o nome “Back to the Start”) e passa a produzir com menos agilidade, mas de forma sustentável. O filme ainda tem o trunfo de utilizar muito bem a trilha sonora, que se encaixa perfeitamente ao longo da narrativa. A música “The Scientist”, da banda Coldplay, inclusive tem como um de seus versos mais lembrados justamente “I’m going back to the start”. Curiosamente, a versão escolhida para o filme não tinha interpretação da banda britânica. Confira:

http://www.youtube.com/watch?v=aMfSGt6rHos

Mais uma vez, fizemos a previsão certa para a categoria errada. Podemos dizer que tiramos um 6 e passamos de ano.

Brincadeiras à parte, esperamos que o blog tenha sido importante para o acompanhamento do Festival Internacional de Criatividade de Cannes. Buscamos trazer o que aconteceu de melhor, com foco nos principais cases vencedores e nos melhores seminários.

Até a próxima! Au revoir!

O dia das lendas em Cannes (3)

A última lenda que marcou presença no palco do auditório Debussy não tem a mesma importância das demais para a publicidade mundial, já que é uma lenda do futebol, o ex-jogador Ronaldo Fenômeno. O sócio da agência 9ine participou de um debate mediado pelo CEO do Grupo WPP, Martin Sorrell. Ronaldo dividiu a mesa com o inglês Sebastian Cole, Chefe do Comitê Organizador das Olimpíadas de Londres 2012, que falou sobre o evento. Ao brasileiro, membro do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014, cabia a análise da realização do Mundial no Brasil e das Olimpíadas de 2016.

Sem dominar completamente a língua inglesa, Ronaldo contou com a ajuda de uma tradutora, porém isso atrapalhou bastante suas intervenções, pois seu discurso acabava não tendo fluidez. O ex-jogador se mostrou mais à vontade para falar sobre seu palpite para a Eurocopa, que está sendo disputada na Ucrânia e na Polônia, e para relembrar seus bons tempos na Itália, em que estabeleceu boa amizade com o presidente da Internazionale, Massimo Moratti. Sobre Copa do Mundo e Olimpíadas, Ronaldo falou pouco e não foi conclusivo, repetindo frases que já disse exaustivamente no Brasil, tais como a importância do legado que será criado no país e o valor de ter os olhos de todo o planeta voltados para o Brasil. Enquanto isso, Sebastian Cole se aprofundou mais em suas colocações, lembrando exemplos positivos de Olimpíadas anteriores como Barcelona-92.

Mesmo com uma participação discreta, Ronaldo mostrou que a fama que construiu ao longo de 17 anos de carreira se mantém intacta, já que muitas pessoas que assistiram ao debate foram à beira do palco para pedir autógrafos ao Fenômeno assim que a sessão se encerrou. Em resumo, uma lenda como Ronaldo será sempre reverenciada, mas ele dá mostras de que precisa se preparar melhor para ter sucesso como “político do futebol”, como o próprio empresário se definiu.

O dia das lendas em Cannes (2)

Esta sexta-feira mereceu o apelido de “dia das lendas” não apenas pela presença de John Hegarty e Dan Wieden. Quem foi ao auditório Debussy presenciou também uma reunião histórica dos publicitários que possibilitaram a realização do projeto Re: Brief – do Google –, que já conquistou o Grand Prix na categoria Mobile. O gigante de buscas trouxe ao palco os criadores dos filmes originais, que falaram sobre a ótima experiência de adaptar suas ideias 40 anos depois dos filmes originais.

Durante quase uma hora, os publicitários falaram sobre a oportunidade de recriar seus próprios trabalhos, tendo à disposição, agora, uma série de ferramentas que nem imaginariam utilizar quando criaram os filmes originais. A presença de cada um deles foi muito importante para o sucesso do projeto, pois somente os próprios criadores poderiam manter vivas suas ideias originais, que agora ganham uma roupagem atual.

Durante o seminário, só houve tempo para apresentar uma das recriações do projeto, para a locadora de carros Avis. Utilizando de forma inteligente o YouTube, a nova versão cria filmes animados em tempo real, seguindo uma história de locação de carros descrita pelo internauta.

Ao final da apresentação, os experientes publicitários foram aplaudidos de pé pela platéia, algo pouco usual no Cannes Lions e que reforçou a importância do case e do resgate de profissionais que fizeram história em um período totalmente diferente da publicidade.

O dia das lendas em Cannes

Nesta sexta-feira, o auditório Debussy, que recebe a maior parte dos seminários no Festival de Cannes, foi o centro das atenções. No mais aguardado encontro do dia, John Hegarty, da BBH, e Dan Wieden, da Wieden+Kennedy, deliciaram o público com um bate-papo descontraído que foi permeado por alguns dos melhores filmes dos últimos anos, inclusive alguns que concorrem a prêmios em 2012.

Líderes de duas das principais agências do mundo, Hegarty e Wieden conversaram puramente sobre publicidade e criatividade, entretendo o público que estava ávido por isso depois de inúmeros seminários que tinham como tema central a importância das redes sociais no atual momento da comunicação. Só de não citarem a palavra Facebook, as duas lendas já agradaram boa parte da platéia. Mas eles foram além e mostraram parte do conhecimento que os fez tão reconhecidos internacionalmente.

Entre os filmes mostrados durante o seminário, destacam-se três que concorrem a Leões no Festival deste ano, sendo dois deles das agências BBH e Wieden+Kennedy.

O primeiro deles, criado na agência de John Hegarty, reconta a clássica história dos “Três Porquinhos”, mas sob uma ótica totalmente atual e utilizando ferramentas como redes sociais (sempre elas…), tablets e smartphones. O cliente é o tradicional jornal The Guardian, que assina o filme reafirmando seu compromisso em mostrar todos os lados envolvidos no fato, sempre em busca da verdade, contando inclusive com a colaboração dos leitores. Veja:

O segundo, assinado pela agência Wieden+Kennedy para a Procter & Gamble, homenageia as mães, tendo como pano de fundo as Olimpíadas de 2012. Com forte carga emocional e roteiro impecável, o filme amarra muito bem o patrocínio da P&G aos Jogos Olímpicos, se aproximando do principal target de muitos dos produtos da empresa.

O último filme é uma grata surpresa vinda de Paris. Criado pela agência BETC para o Canal+, o comercial começa com uma batalha de um filme épico, que é interrompida subitamente pelo diretor da ficção, que se revela um urso. Após falar sobre sua paixão pelo cinema, que cresceu ao longo dos anos, o filme traz um final surpreendente e incrivelmente adequado à mensagem que o cliente queria passar. Vale conferir:

Nem preciso dizer que os três filmes são boas apostas para conquistar Leões e são praticamente “barbadas” em suas subcategorias. Para ninguém dizer que não arriscamos, apontamos o filme do Canal+ como mais forte candidato ao Grand Prix de Film, para a alegria dos franceses e tristeza das lendas Hegarty e Wieden. A sacada do tapete é realmente genial e o filme ainda traz como elemento importante a homenagem à figura do diretor de cinema, que tem uma importância imensa na história da publicidade.

Talent leva GP de Rádio com case que deve lançar tendência no mercado

Nesta quarta-feira, o Brasil foi novamente um dos principais assuntos na premiação do Cannes Lions 2012, graças ao case “Rádio Repelente”, criado pela Talent para a revista de esportes Go Outside. A ideia se diferenciou das demais por sua originalidade e, principalmente, utilidade para os leitores da revista.

A “Rádio Repelente” é um tipo diferente de anúncio de rádio, pois é imperceptível ao ouvido humano. Com uma frequência específica, o rádio emitia um som que simulava o barulho feito por um inseto que é predador de mosquitos. Naturalmente, os mosquitos que ouviam a frequência da “Rádio Repelente” se afastavam da pessoa que estava ouvindo.

Algo simples e útil aos leitores da revista, cujo foco são os esportes praticados ao ar livre com muitos mosquitos em volta como trilha e pesca esportiva. No case, volta a aparecer a ideia de prestar um serviço ao consumidor, para fidelizá-lo e trazer algo que agregue valor ao seu dia a dia. É algo que vemos aqui nos seminários e também em cases vencedores. Um diferencial que está se tornando cada vez mais importante na hora de pensar em uma campanha, pois as pessoas se lembram muito mais de marcas que oferecem algo além de produtos de qualidade.

Vale destacar que muitos dos spots finalistas eram ideias brilhantes, mas nenhuma delas trazia algo de novo, que pode realmente mudar a forma como agências e clientes enxergam o rádio, mídia que vinha perdendo espaço e prestígio. Além de competir com outras mídias mais modernas, o rádio enfrenta inimigos poderosos como iPod, MP3, MP4 etc. Eles reduzem a audiência de rádios musicais por oferecerem listas personalizadas.

O insight da Talent pode trazer um fôlego novo para a mídia, pois o uso de freqüências específicas pode proporcionar outras ideias e oferecer outras funcionalidades para as pessoas. Coisas tão úteis como espantar mosquitos.

Sempre polêmica, Benneton volta a ser assunto e conquista GP de Press

A Benneton, grife italiana de roupas, se notabilizou por anúncios que chocavam a maior parte das pessoas. Apesar de contar com vários fãs e ter conquistado prêmios importantes, a comunicação criada pelo fotógrafo Olivieri Toscani sempre despertou críticas severas, pois muitos consideravam aquilo uma polêmica barata para gerar uma lembrança forçada da Benneton. Não havia uma ligação muito clara (se é que havia) entre a marca e os personagens e mensagens daqueles anúncios.

O auge das polêmicas foi um anúncio que alertava para o drama da AIDS, com um paciente agonizando em uma cama, cercado por seus familiares desesperados. O “detalhe”, porém, é que o homem deitado lembrava demais a figura clássica de Jesus Cristo. O anúncio, embora trouxesse uma importante mensagem de alerta, foi duramente atacado por setores da igreja católica.

Em 2012, depois de muitos anos de ausência de prêmios internacionais, a Benneton conquista um Grand Prix em Press, pela campanha “Unhate”, criada pela agência italiana Fabrica e pela holandesa 72andsunny, que traz importantes líderes mundiais se beijando. A mensagem de compreensão e paz entre as nações é tão importante que faz com que o beijo seja apenas um caminho para torná-la mais impactante. Neste caso, a polêmica dificilmente será considerada uma ferramenta vazia, utilizada apenas para que as pessoas se lembrem da marca.

A campanha “Unhate” fará as pessoas se lembrarem da Benneton não apenas como uma criadora de polêmicas, mas também como uma grife que demonstra preocupação com a situação pouco amistosa entre algumas nações.

YES! Siemens leva um Leão de Ouro (com dois dias de atraso)

O post que sucedeu nossa “aposta” no case “Siemens Laundry Gallery” foi bem conciso ao anunciar que a ótima ideia não tinha sequer conquistado um Leão de Bronze em Promo & Activation. Porém, como diriam alguns, “o tempo é o senhor da razão”. Pois bem. Nesta quarta-feira, tivemos uma grata surpresa na premiação de Design. O case em que confiávamos levou um Leão de Ouro na categoria!

Embora considerássemos o case merecedor de um prêmio em Promo, reconhecemos que ele se destaca mais como uma peça de Design, por toda a ideia e execução da galeria de arte que traz as máquinas de lavar roupa da Siemens.

Quem sabe não lançamos algumas apostas também para os esperados Leões da categoria Film…

Com a peça mais limpa visualmente, Coca-Cola leva Grand Prix de Outdoor. “Menos é mais”

O Grand Prix de Outdoor do Cannes Lions 2012 premiou dois cases, pois, de acordo com o júri, assim se faz justiça e se consegue premiar tanto o Outdoor tradicional (pôster), quanto o formato mais atual, utilizando mídias diferenciadas em ruas e vias públicas.

O pôster vencedor não era o que mais se destacava em meio às centenas de peças que compunham o shorlist, tendo um visual extremamente limpo e uma mensagem já bastante conhecida. A peça, intitulada #cokehands, tem criação da Ogilvy Shanghai e mostra bem o espírito da marca de refrigerante, que incentiva a união e a alegria de compartilhar bons momentos. A adequação à linha de comunicação da marca é indiscutível, mas o que deve ser levado em consideração é a incrível limpeza visual da peça, que tem basicamente uma faixa branca sobre um fundo vermelho, formando dois braços, unidos por uma garrafa de Coca-Cola.

O prêmio chama ainda mais a atenção se compararmos com o pôster mais aclamado de 2011, “Heaven and Hell” (das malas Samsonite), que tem enorme riqueza de detalhes e um apuro visual que beira a perfeição. O curioso é que a peça vencedora do ano passado também era da China, da JWT, e o presidente do júri deste ano foi justamente um dos criadores da peça.

Não está claro se o Grand Prix para uma ideia tão simples e perfeitamente executada indica uma tendência nesse tipo de publicidade, mas mostra um pôster não precisa e nem deve ter tanta informação. O excesso pode prejudicar a compreensão, ou “menos é mais”. Vale destacar que outras peças ganhadoras de Leões também tinham como característica a objetividade e a limpeza visual. Anúncios impressos e pôsteres se adequam muito bem a ideias diretas e de rápida compreensão.

Mercedes-Benz conqusita Grand Prix com carro invisível

O outro Grand Prix ficou com a alemã Jung Von Matt, pelo case “The Invisible Drive”, que levou às ruas de Hamburgo um carro que ficava transparente graças à utilização de telas de LED que criavam a ilusão visual. A ideia era mostrar que o modelo da Mercedes-Benz, ecologicamente correto, tem 0% de emissão de gases tóxicos, o que o torna “invisível” para o ambiente. Produto utilizado como mídia de forma original, adequação às características do carro e boa repercussão junto ao público. Os ingredientes que levaram a Jung Von Matt ao Grand Prix de Outdoor.

Categoria Mobile tem brilho brasileiro

Vencedora do prêmio de Agência do Ano em 2010 e 2011, a AlmapBBDO teve seu primeiro momento de destaque no Cannes Lions 2012 na categoria Mobile, estreante no evento. Com um anúncio digital para tablet, a agência paulistana mostrou uma forma bem original de fazer propaganda em uma das mais recentes plataformas visuais do mercado.

A idéia foi muito simples e seu valor está justamente nisso. Uma das características mais importantes do tablet é a forma como lemos conteúdo nele, passando as páginas com os dedos. Pois a Almap usou isso para anunciar o seguro Bradesco. Depois de passar duas páginas, o leitor se depara com um anúncio de carro e, quando tenta passá-lo, o carro se move rapidamente para a esquerda e se choca com a lateral do tablet, revelando a marca Bradesco Seguros e uma assinatura que mostra total adequação ao produto anunciado: “Eventos inesperados acontecem sem aviso. Faça um Plano de Seguro Bradesco.”

O anúncio foi vencedor de um Leão de Ouro na categoria Mobile e foi um dos mais aplaudidos entre todas as peças inscritas. O Grand Prix ficou com o grandioso case Re-Brief, fruto de uma parceria entre Google e Coca-Cola. A idéia foi recriar um comercial clássico da Coca-Cola da década de 60 com uma cara atual e adequada às plataformas modernas.

Barilla valoriza a simplicidade e foge à regra

Em meio a uma série de seminários, fóruns e workshops que valorizam a modernidade e a geração de buzz por meio das redes sociais, um seminário chamou a atenção por fugir ao discurso dominante. A Barilla, uma das marcas de macarrão mais vendidas no Brasil e no mundo, trouxe uma visão mais simplificada de comunicação e administração de uma empresa.

O chairman Guido Barilla, neto do fundador da marca, falou sobre a importância do “belo” na comunicação da Barilla, tradição que vem desde os primórdios da empresa, fundada em 1877. Os comerciais valorizam a família, permeando a narrativa com forte carga emocional. Guido Barilla não escondeu que sua empresa era como um peixe fora d’água no universo de inovação e tecnologia. Segundo ele, a “Barilla procura ser criativa nas coisas simples e não foge às suas características”.

O sucesso da Barilla no mundo legitima o discurso do chairman e serve de alerta para quem olha com fascínio exagerado para as novidades e tecnologias supermodernas. É evidente que elas são o futuro e que devemos estar atentos, porém é importante não perder de vista empresas como a Barilla, que se mantêm fieis às suas tradições e seguem muito bem-sucedidas.

Coca-Cola não repete o brilho de 2011

Depois de proporcionar um dos melhores e mais bem amarrados seminários do Cannes Lions 2011, a Coca-Cola gerou bastante expectativa para a palestra desta terça-feira. A marca norte-americana não conseguiu manter o nível do ano passado, mas ainda assim trouxe um bom seminário para o Festival deste ano.

O tema foi a comunicação global da Coca-Cola, com foco no engajamento e na união das pessoas em torno de uma mensagem positiva. Um dos momentos de maior destaque foi a exibição do comercial “Razões para acreditar”, criado para a América Latina. O filme, embalado por um coral de crianças, compara números de coisas negativas e positivas, sempre mostrando esperança de que o bem triunfará.

A mensagem de otimismo está no DNA da Coca-Cola, por isso o comercial foi um sucesso não apenas para o público em geral, mas dentro da própria empresa, que enxerga a peça como uma bandeira que mostra muito bem os valores que ela defende.